
Guarapari, ES – Na paisagem costeira de Guarapari (ES), um novo símbolo de esperança começa a germinar: o viveiro de propágulos de mangue instalado na sede da Associação SALVAMAR. A iniciativa integra o projeto “Vozes dos Manguezais de Guarapari”, coordenado pelo Prof. Dr. Marlon Carlos França, do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), em parceria com o Instituto Reritiba e órgãos estaduais de meio ambiente.
O viveiro nasce como ponto de partida para a recuperação de áreas degradadas do manguezal, unindo ciência e comunidade em uma ação concreta de restauração ecológica e educação ambiental.
O presidente da Associação SALVAMAR, Sebastião Machado, celebra o novo espaço e destaca o caráter comunitário do projeto:
“Essa parceria com o projeto “Vozes dos Manguezais” é imortal para a comunidade. Ela vai permitir recuperar várias áreas degradadas do manguezal. Futuramente, o espaço do viveiro será usado também como horta comunitária”, afirma.
Há duas décadas a SALVAMAR atua na defesa ambiental e na conscientização da população local. Para Sebastião, envolver os jovens tem sido essencial:
“Com os adolescentes temos facilidade deles perceberem a importância do mangue.”
Mas ele reconhece que ainda há desafios entre os adultos:
“Os adultos precisam compreender a realidade do que está acontecendo e entender a importância do mangue que está em nosso quintal. Até mesmo uma limpeza pelo mangue incomoda alguns moradores.”


A voz da ciência: Marlon Carlos França
O coordenador do projeto Vozes dos Manguezais, Prof. Dr. Marlon Carlos França, é oceanógrafo e pesquisador do IFES campus Piúma. Ele lidera uma equipe interdisciplinar que realiza o diagnóstico ambiental e o plano de restauração dos manguezais de Guarapari.
Segundo ele, o cenário é preocupante, mas há motivos para otimismo:
“Os manguezais de Guarapari vêm sofrendo com ocupações irregulares, descarte de resíduos e alterações no fluxo natural das águas. Mas ainda há muito a ser salvo. Nosso propósito é unir ciência e comunidade para restaurar e proteger esse ecossistema vital.”
O projeto trabalha com três espécies de mangue nativas, respeitando as condições de solo, salinidade e maré de cada área.


“Cada trecho do mangue tem uma vocação ecológica própria. Escolher a espécie certa e entender o comportamento das marés é fundamental para garantir a sobrevivência das mudas”, explica o pesquisador.
As mudas estão sendo cultivadas inicialmente em Anchieta, mas parte do processo será transferida para o viveiro da SALVAMAR, em Guarapari, fortalecendo a autonomia local:
“Queremos que Guarapari tenha um viveiro funcionando dentro da comunidade, próximo das áreas de restauração. Isso cria pertencimento, aproxima as pessoas da natureza e garante continuidade ao trabalho.”


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Da semente ao reflorestamento
De acordo com o coordenador, o projeto é financiado pelo edital FAPES/SEAMA nº 13/2024, e deverá desenvolver ações integradas de reflorestamento, diagnóstico geoquímico, monitoramento e educação ambiental.
Sobre a expectativa de resultados, Marlon afirma:
“Hoje estamos germinando propágulos e produzindo as primeiras mudas. Nosso desafio é garantir alta taxa de sobrevivência no campo. Em cinco a dez anos, esperamos ver uma regeneração perceptível — com retorno da fauna, estabilidade ecológica e melhoria da qualidade da água.”
O pesquisador destaca ainda o papel da comunidade no sucesso da iniciativa:
“Durante muito tempo crescemos de costas para o mar. Agora é hora de virar de frente, compreender que o mangue é parte da nossa identidade e da nossa sobrevivência.


Metas e impacto ambiental
O projeto prevê a produção de dezenas de milhares de mudas de mangue nos próximos anos, com o objetivo de restaurar áreas críticas de Guarapari e fortalecer o equilíbrio ecológico da costa. Além da recuperação física, a iniciativa busca formar uma nova geração de guardiões ambientais: estudantes, pescadores e moradores que compreendam o valor do manguezal como berço da vida marinha e barreira natural contra enchentes e erosões.
Um legado de pertencimento
Com o apoio da SALVAMAR e a liderança científica de Marlon França, o viveiro se torna um símbolo de integração entre educação, pesquisa e ação comunitária.
“Nosso papel é ouvir as vozes do manguezal e permitir que ele fale novamente — mais forte, mais vivo e mais respeitado”, conclui Marlon.



































